Uma sobretaxa de 50% sobre todas as mercadorias exportadas pelo Brasil para os Estados Unidos provoca agitação no mercado brasileiro hoje (10). Segundo correspondência despachada ontem por Donald Trump para Luiz Inácio Lula da Silva, a nova taxa entrará em vigor a partir de 1º de agosto. Como consequência, o Brasil deixou de ser um dos países menos impactados pela elevação tarifária de Trump – visto que inicialmente recebeu o gravame mínimo de 10% – e agora ostenta a maior alíquota entre todas as nações.
O impacto na economia brasileira como um todo ainda é incerto, porém as tarifas tiveram efeitos significativos sobre as ações de empresas de certos setores. O Ibovespa B3 operou em baixa ao longo de todo o dia de negociações desta quinta-feira (10) e encerrou o pregão com desvalorização de 0,54%, situando-se em 136.743 pontos. Entre os maiores recuos, estão companhias do ramo industrial, de petróleo e gás e de proteína animal, as quais possuem parte considerável de sua receita proveniente das exportações para os EUA.
É importante salientar que nas próximas semanas o governo brasileiro deve reagir à implementação da tarifa de 50%, havendo incertezas quanto às taxas finais a serem estabelecidas.
“Desde o início do ano, Trump tem evidenciado maior tributação e as alíquotas têm variado bastante. O que se percebe é que ele basicamente almejava renegociar as condições e em muitos casos a primeira alíquota por ele estipulada não era aplicada”, exemplifica Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
Quais os setores mais impactados pela sobretaxa?
Os segmentos que mais efetuam exportações para os EUA estão entre os mais prejudicados pelas tarifas. Mauricio Rahmani, gestor de renda variável da Reach Capital, adota uma postura que pode tranquilizar os investidores: “o impacto direto atinge apenas um grupo limitado de empresas industriais listadas na bolsa”, afirma.
Contudo, mesmo dentro de cada ramo, a resposta do mercado varia conforme o grau de exposição de cada companhia aos Estados Unidos. Quanto maior a importância das exportações para os EUA na receita da empresa, maior tende a ser o impacto.
Para exportadores de produtos industrializados, commodities e matérias-primas industriais, o alcance do impacto é significativo, assevera o planejador financeiro e especialista em investimentos Jeff Patzlaff. Segundo ele, empresas como Embraer e Suzano têm parcela relevante de suas receitas ligada às vendas para os EUA. Rahmani menciona também a WEG, porém indica que o reflexo tende a ser marginal, “visto que cerca de dois terços das vendas nos EUA são atendidos por fábricas locais ou mexicanas”.
No setor de petróleo e gás, Otávio Araújo, consultor sênior da ZERO Markets Brasil, visualiza impacto reduzido. “Na minha visão, apesar do amplo comércio de petróleo com os EUA, a direcionamento das exportações é mais flexível neste caso. Ainda há margem para aumentar o volume de exportação de petróleo bruto para a China, por exemplo, ou para outros parceiros”.
Por outro lado, as empresas brasileiras que possuem fábricas nos EUA podem se favorecer. “A intenção de Trump é que os países estabeleçam novas fábricas e plantas nos EUA. Empresas como Gerdau e JBS, que já possuem produção lá, não seriam impactadas e, na verdade, poderiam até ser beneficiadas nesse contexto”, aponta Bolzan, da The Hill Capital.
Qual a atitude a adotar com seus investimentos?
Em meio à instabilidade e incerteza do momento, muitos investidores se indagam sobre a conduta a ser tomada em relação às suas ações.
Segundo Jeff Patzlaff, é necessário ter prudência ao reavaliar a exposição da carteira nesse contexto. Para ele, investidores com ações dos setores mais vulneráveis podem reduzir a posição ou recorrer à proteção cambial e instrumentos derivativos para mitigar os riscos. Ele destaca ainda a importância de “diversificar para setores menos suscetíveis e acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, pois há possibilidade de negociação diplomática que suavize os impactos”.
“Caso as tarifas se mantenham, prevê-se certo alívio ao fim do primeiro semestre de 2026, quando a agenda política nos EUA poderá sofrer alterações. Até então, a prioridade deve ser dada à solidez da carteira, com enfoque na qualidade, na diversificação, mantendo títulos de renda fixa ou títulos indexados à inflação ou ao dólar”, aponta Patzlaff.
Otávio Araújo, da ZERO Markets Brasil, ressalta que a decisão deve estar alinhada ao perfil de cada investidor. “Para clientes mais conservadores, a recomendação é retirar as ações da carteira neste momento, mesmo que acarrete prejuízo”, afirma.
“Já para um investidor mais arrojado e com disponibilidade para manter o capital investido, pode representar um excelente momento para aumentar a posição, em minha opinião”, acrescenta. Contudo, ele adverte que a decisão de adquirir mais ações deve ser embasada numa análise dos fundamentos de cada empresa, buscando companhias resilientes e consolidadas, em setores mais estáveis e menos afetados pelas oscilações de curto prazo do mercado.
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Fonte: Bora investir