A Petrobras comunicou, nesta sexta-feira (8), que o desejo de retornar ao mercado de venda direta de gás liquefeito de petróleo (GLP) – popularmente reconhecido como gás de cozinha ou botijão – é justificado pela elevada margem de lucro na comercialização do produto combustível.
Durante a apresentação do relatório do segundo semestre da empresa, Magda Chambriard, presidente da estatal, criticou a decisão da gestão anterior de abandonar setores de negócios e enalteceu o crescimento das margens obtidas pelos comerciantes de gás de cozinha.
“Por que iremos fechar essa oportunidade? Mantenha a oportunidade aberta”, declarou Magda Chambriard, referindo-se à ordem para que a companhia se retirasse de segmentos como etanol e a comercialização direta de gás de cozinha.
“Mantenha a oportunidade aberta, pois, quem sabe, pode ser útil, garantir um negócio lucrativo, proporcionar um retorno favorável para a empresa”, afirmou a presidente da estatal antes de destacar a expansão da margem do negócio.
“Qual foi a atividade que, em tão curto prazo, aumentou sua atratividade em 188%? É disso que estamos tratando, não devemos, de forma alguma, restringir a nós mesmos. Devemos buscar a ampliação de nossos mercados, a alocação de nossos produtos da maneira mais rentável e vantajosa possível para a empresa”, afirmou.
Margem
O crescimento de 188% mencionado pela executiva está registrado em uma análise técnica elaborada em outubro de 2024 pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME).
O estudo indica que, enquanto a inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas, foi de 48% entre 2019 e 2023, a margem clara das distribuidoras cresceu 188% no mesmo período, variando de uma média de R$ 285,22 por tonelada (t), em 2019, para R$ 821,90/t, em 2023.
A margem clara é a diferença entre o preço de revenda do GLP praticado pelas distribuidoras e o custo de aquisição da matéria-prima e custos operacionais, como transporte, mão de obra, armazenamento, impostos e marketing. Quanto maior a margem clara, maiores os lucros.
Retorno ao mercado
A notícia de que a Petrobras tem a intenção de voltar a atuar no segmento de distribuição de gás de cozinha foi divulgada na noite de quinta-feira (7).
A empresa deixou esse segmento em 2020, durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), por meio da privatização da Liquigás, vendida para dois consórcios privados: Copagaz – Distribuidora de Gás S.A. e a Nacional Gás Butano Distribuidora.
Naquela época, a administração da Petrobras argumentava que a estatal estava renunciando a atuar em determinadas áreas para focar na redução de dívidas e na exploração e produção de petróleo e gás em águas profundas e ultraprofundas.
A decisão estratégica ocorre em um cenário em que o governo, principal acionista e controlador da estatal, tem expressado preocupação com o valor do botijão de gás.
No momento da privatização, a Liquigás estava presente em todos os estados, com 23 centros de operação e uma rede de cerca de 4,8 mil revendedores autorizados. A subsidiária da Petrobras detinha uma participação de mercado de 21,4%, ou seja, de cada cinco botijões vendidos, um era da Liquigás.
Clientes de grande porte
O diretor de Logística da Petrobras, Claudio Romeo Schlosser, comentou durante a entrevista desta sexta-feira que a empresa já está em busca de clientes relevantes – um perfil que se aplica principalmente a indústrias e uso comercial.
“Estamos ativamente procurando clientes, clientes de grande porte de GLP com o objetivo de oferecer a venda direta. Temos a possibilidade de, em certas infraestruturas, aproveitar o que já possuímos e avançar, evidentemente, nesse mercado. O que buscamos é realmente acessar o mercado”, afirmou.
Em setembro de 2024, a Petrobras inaugurou o Complexo de Energias Boaventura (antigo Comperj), em Itaboraí, na região metropolitana do Rio de Janeiro. O polo industrial processa gás natural do pré-sal e possui entre seus produtos o GLP. Na inauguração, Magda Chambriard destacou que a unidade contribuiria para ampliar a oferta de gás no mercado interno e reduzir as importações de GLP.
Energia renovável
A apresentação de resultados contou com a presença da nova diretora de Transição Energética e Sustentabilidade, Angélica Laureano, que assumiu o cargo há menos de um mês, substituindo Mauricio Tolmasquim.
Ela ressaltou que a empresa tem interesse no setor de etanol, “visto como campo estratégico de baixo carbono”, e está em busca de parceiros comerciais.
“Estamos buscando alianças, queremos ser associados de empresas de grande porte que tenham um portfólio sólido, que tenham potencial para crescer nesse mercado. Mas em uma participação minoritária. Planejamos expandir nesse mercado que já é maduro”, explicou.
Rendimento e ações
No segundo trimestre de 2025, a Petrobras obteve lucro líquido de R$ 26,7 bilhões. O número representa uma redução de 24,3% em relação ao trimestre anterior, mas é superior ao mesmo período de 2024, quando a empresa teve prejuízo de R$ 2,6 bilhões.
A empresa também anunciou a distribuição de R$ 8,66 bilhões em dividendos e Juros sobre Capital Próprio (JCP) aos acionistas. Tanto os dividendos quanto os JCP são maneiras de uma empresa compartilhar parte do lucro com os acionistas.
No caso da Petrobras, o governo federal deve receber cerca de 29% do valor, uma vez que detém essa proporção das ações. Outros 8% vão para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), banco público de fomento do governo federal.
Fonte: Agência Brasil