O vice-presidente e secretário do Progresso, Indústria, Negócios e Serviços, Geraldo Alckmin, estima que 35,9% das exportações do Brasil para os Estados Unidos possam ser impactadas, se as medidas anunciadas pelo governo dos EUA forem implementadas, levando em conta os aproximadamente 700 itens que não estão sujeitos à tarifa de 50% contra o Brasil.
Ao participar do talk show Mais Você, da Rede Globo, nesta quinta-feira (31), Alckmin mencionou que o governo agirá para reduzir os efeitos negativos nos setores afetados, especialmente para assegurar a manutenção dos empregos.
“Vamos proteger os 35% das exportações que foram afetadas. Vamos nos concentrar nesses 35% e conservar os empregos, realizando pesquisas para esses setores mais prejudicados,” afirmou.
Em comunicado enviado ao governo brasileiro em 9 de julho, o presidente dos EUA, Donald Trump, declarou que as exportações brasileiras para o país seriam sobretaxadas em 50% a partir de 1º de agosto.
Na quarta-feira (30), o governo dos EUA suavizou o discurso ao adiar o início da sobretaxação para 6 de agosto, além de apresentar uma relação com cerca de 700 exceções, abrangendo itens que, se não fossem considerados, poderiam afetar negativamente a economia daquele país.
Dentre os produtos listados estão suco e purê de laranja, combustíveis, minerais, fertilizantes e aeronaves civis, incluindo seus propulsores, peças e elementos. Também foram excluídos da sobretaxação purê de madeira, celulose, metais preciosos, energia e derivados energéticos.
A lista, entretanto, não abarca café, frutas e carne. Todos seriam sobretaxados em 50%.
“Às vezes, há um setor em que 90% da produção é vendida internamente e apenas 10% é exportada. Nesse caso, o impacto é menor. Por outro lado, existem setores que exportam metade da produção e, dentre essa parcela, 70% é destinada aos Estados Unidos. Esses são bastante afetados,” acrescentou.
Plano de Ação
De acordo com Alckmin, o governo já elaborou um plano de ação “essencialmente pronto”, com ênfase na preservação dos empregos e da produção.
“Ainda está em avaliação, visto que apenas ontem foram divulgados alguns detalhes sobre a sobretaxação.”
Ele explicou que o presidente Lula ainda tomará a decisão final, e que o plano terá implicações financeiras, de crédito e tributárias, mas ninguém ficará desamparado.
“Inicialmente, vamos lutar para reduzir o impacto nos 35,9% realmente atingidos pela sobretaxação de 50%. Não consideramos esse assunto encerrado. As negociações continuarão. Não se encerraram ontem [com o último anúncio dos EUA],” disse.
“Além disso, procuraremos alternativas de mercado; e em terceiro lugar, apoiaremos setores que necessitam de auxílio, como o de pescados, mel, frutas,” acrescentou.
Alckmin mencionou que o governo planeja ampliar a lista, incluindo outras frutas e carne bovina. “Eles tinham mencionado a manga, por exemplo. No entanto, parece que esqueceram. Vamos lembrá-los”.
Novas Oportunidades Comerciais
Ele reiterou que o foco é buscar novos mercados para não prejudicar os produtores, evitando assim uma queda na produção por falta de mercado.
“O Brasil representa aproximadamente 2% do PIB mundial. Logo, 98% do comércio está no exterior. Precisamos buscar oportunidades na área agrícola. Vale ressaltar que conquistamos 398 novos mercados. Somos uma potência em alimentação, energia e meio ambiente,” argumentou.
Além disso, ele destacou que após um longo período de isolamento, o Mercosul fechou excelentes acordos, como o com Singapura, no ano passado; e que um acordo com a União Europeia entrará em vigor ainda este ano.
“Serão 27 nações altamente desenvolvidas nesse acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. Além de outros quatro com Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein, que também são países ricos, embora não façam parte da União Europeia. Esses acordos impulsionarão significativamente o comércio exterior brasileiro,” completou.
Princípio da Autonomia
Outro ponto enfatizado por Alckmin durante o programa foi a importância da autonomia, um aspecto considerado fundamental pelo governo.
“Afinal, é inadmissível um poder intervir no outro. Devemos lembrar que o presidente Lula permaneceu preso por um ano e meio sem nunca ameaçar a democracia ou o poder judiciário”.
Alckmin relatou que Lula se reuniu ontem com membros do Supremo Tribunal, e um documento foi redigido em resposta, reafirmando a separação dos poderes no Brasil; e que a interferência externa, como a tentada pelos EUA, vai de encontro à democracia e ao estado de direito.
“Imagine se a Suprema Corte americana processasse um ex-presidente [deles] e o Brasil afirmasse que aumentaria as tarifas sobre produtos americanos que entrassem aqui, simplesmente por discordar da decisão”, questionou o vice-presidente brasileiro.
Além disso, Alckmin mencionou que o governo tem mantido diálogos com autoridades norte-americanas e também com representantes das chamadas big techs (grandes empresas de tecnologia).
Fonte: Agência Brasil