Não é mais algo inédito escutar a expressão: as moedas estáveis são o aplicativo disruptivo do ramo de criptomoedas, a inovação que finalmente fez o ecossistema sair do nicho e adentrar no cotidiano do mercado financeiro mundial. E a edição de 2025 da Blockchain Rio mostra que os tokens lastreados em moedas fiduciárias de fato conquistaram um protagonismo que já pertenceu ao Bitcoin e às finanças descentralizadas (DeFi) – ao menos no aspecto mais empresarial do setor Web3.
Um sinal claro disso são as palestras proeminentes de executivos da Tether e Circle, as duas empresas responsáveis pelas moedas estáveis líderes do mercado (USDT e USDC, respectivamente).
Mas, além disso, basta observar a agenda dos painéis de discussão para perceber que o tema das moedas estáveis foi o foco não oficial do evento.
Outro indicador eram as conversas informais nos corredores. Mesmo que as moedas estáveis não sejam tão atrativas quanto empréstimos garantidos ou Bitcoin a US$ 1 milhão, o consenso geral era como realizar transações comerciais utilizando tokens lastreados.
É notável que durante o evento também tenha havido uma considerável abordagem sobre aplicações para moedas estáveis lastreadas em Reais. Há pouco tempo, em uma entrevista ao Portal do Bitcoin, Paolo Ardoino, CEO da Tether, mencionou que os dados indicavam falta de interesse em moedas estáveis que não fossem vinculadas ao dólar.
Agora, parece claro que cada moeda nacional terá sua própria versão tokenizada para possibilitar a utilização desses tokens em contratos inteligentes que desempenham todas as funções do mercado financeiro, porém de maneira mais célere e econômica. Essa foi a crença amplamente compartilhada durante a Blockchain Rio 2025.
Trocas cambiais e remessas, o foco inicial
A principal e imediata aposta para as moedas estáveis é revolucionar a maneira como o dinheiro é transferido internacionalmente. Silvio Pegado, diretor da Ripple para América Latina, afirma categoricamente que o mercado de câmbio tradicional passará por uma transformação completa.
“Os bancos terão que oferecer tanto o dólar convencional quanto o digital. As moedas estáveis são altamente eficientes. Se alguém deseja enviar dólares para o exterior, não há razão para adquirir dólares convencionais. As moedas estáveis estão ganhando força, e no futuro haverá pouquíssimas situações em que pessoas ou empresas optarão pelo dólar tradicional”, disse Pegado em entrevista ao Portal do Bitcoin.
Em um debate, André Portilho, chefe do setor de ativos digitais do BTG Pactual, enfatizou que o “uso das moedas estáveis deve ser transfronteiriço”, sendo utilizado principalmente para transferências de grandes quantias entre países. “As transações em grande escala atrairão o grande capital”, afirmou o executivo.
Moeda estável do real se torna realidade
“O Brasil tem uma participação pequena na economia global, mas tem sua relevância. Essa relevância ainda não se reflete nas moedas estáveis, sendo bastante natural que haja uma representatividade.” Essa é a explicação de Thomaz Teixeira, CEO da BRL1, empresa responsável por criar uma moeda estável lastreada na moeda brasileira, sobre os motivos para o crescimento desse tipo de ativo.
Teixeira destaca que as aplicações para a moeda estável do real vão desde operações no mercado financeiro (“traders que lidam com o real, arbitragistas que trabalham com preços em reais, empresas com exposição ao real”) até pagamentos rotineiros de empresas com negócios no Brasil (“os expositores estrangeiros nessa feira precisam acessar o real para pagar fornecedores e podem optar por uma criptomoeda”).
O executivo também ressalta que promover moedas estáveis lastreadas em reais com lastro em títulos da dívida pública brasileira é uma maneira de gerar impactos positivos significativos para a economia do país.
“O cidadão brasileiro, ao utilizar esse sistema online, tem como garantia o título mais seguro, que é o título da dívida soberana em reais. Com uma grande utilização, isso poderá financiar o Tesouro brasileiro”, afirma.
O CEO da BRL1 destaca que isso permite que o governo capte mais recursos e, ao mesmo tempo, promova entre a população uma cultura de poupança e investimento.
Além disso, quando um estrangeiro visitar o Brasil e utilizar a moeda estável do real, será uma oportunidade para o Tesouro captar poupança externa. Segundo Teixeira, a entrada de liquidez na economia pode ter impactos significativos: “Poderá haver uma redução nas taxas de juros, pois a demanda pelos títulos brasileiros será maior”.
Fonte: Portal do Bitcoin